Ando há mês e meio a “tentar” inscrever o meu filho na escola primária.
Para quem não sabe, não temos direito de ver as escolas nem saber qual o currículo nem actividades de cada uma e muito menos escolher qual a escola em que o nosso filho irá andar…
Tem sido um processo caricato o suficiente para manter o cunho de serviço público português a que estamos habituados e merecia já uma produção cinematográfica à Manoel de Oliveira…
Com certeza ganharia prémios internacionais na categoria Comédia, pois nenhum estrangeiro na sua perfeita saúde acreditaria que tal fosse reflectisse a realidade.
Bom… e daí já não sei… Com base nos últimos filmes estrangeiros que vi, onde retratavam a nossa sociedade, somos enfiados num estereótipo grego/português de labregos à grande… Lembrei-me agora daquele filme onde o Colin Firth vem a Portugal atrás da Lúcia Moniz e a família dela – ou seja, nós portugueses – somos retratamos como bairristas mafiosos sem grande educação…
Voltando ao processo de inscrição do Tiago na escola…
As várias idas à escola, ou seja, tentativas falhadas de inscrição do meu filho na escola têm razão de ser, mas é claro:
(Razões estas que se acumulam tipo bola de neve para me levarem ou a mim ou aos próprios funcionários à loucura ou ao suicídio…)
1ª - A escola só aceita inscrições dois dias por semana em horários específicos que coincidem com horas e almoço de funcionários, deixando a funcionária que sobra para nos atender com uma vontade louca de sorrir e disposição incrível. (Ela fez questão de mencionar em voz alta ”qualquer dia temos de comer e dormir aqui”)
2ª – A satisfação profissional dos funcionários públicos é à portuguesa …
Ou seja, à 2ª tentativa a funcionária (a mesma…) atira-me os papéis dizendo que estão mal preenchidos e que tenho de voltar ao início. Pior… não se disponibiliza para me ajudar (já que tem um computador à sua frente) e diz-me que a informação está toda na internet.
Ahahahaha…ironia das ironias: as escolas portuguesas estatais não têm site e os nomes que aparecem nas listas online não são iguais aos nomes que a senhora tem na sua listinha preciosa que não partilha comigo, por isso volto para casa.
3ª – Pedem-nos fotocópias de vários documentos (logo, vamos à papelaria tirar fotocópias) para depois descobrirmos que vão digitalizar os documentos lá na escola.
Não vejo problema nisso até me aperceber que ninguém sabe pôr o scanner a funcionar e muito menos percebe o sistema que indica mensagens em inglês. Depois de uma batalha entre o computador e o “especialista” lá da escola, o senhor ainda passa mais dez minutos a tentar perceber onde é que o sistema guardou os documentos…
(Por esta altura, eu já me estou a rir sem conseguir disfarçar e o Nuno começa a deitar fumo pelo nariz)
4º - Finalmente, têm de inscrever o meu filho num portal online do estado, preencher todos os campos e submeter os documentos digitalizados. O especialista não se apercebe que está a guardar os scans num formato não permitido pelo sistema, porque em vez de ler a mensagem de erro que surge no ecrã, anda com a pop-up de um lado para o outro a tentar ver o que está por baixo…
(Aqui já estou uma pilha, a tentar controlar-me para não atirar o senhor contra a parede e fazer eu a inscrição…)
5º - Após mais alguns minutos de sofrimento, espantem-se (ou não…) a internet foi-se e não se consegue aceder ao portal de inscrições. Não estou a brincar, a escola ficou sem internet e ninguém parece stressado e uma das funcionárias acha piada e ri-se, ainda que com algum sarcasmo que denota algum desespero.
Depois de tudo isto, sem grande vontade de me rir lá me vim embora sem ter qualquer confirmação de que o meu filho esteja ou não inscrito para entrar na escola…
Mas não era a altura ideal para desagradar aqueles funcionários prestes a organizar uma iniciativa colectiva ou de suicídio ou de homicídio – não eu para perceber bem qual seria a escolha.
Respira e Não Pira.
Há 5 anos