24 de junho de 2019

Tranquilidade no caos

Hoje vou fazer o exame ao corpo todo, para compararem com o de Janeiro e avaliarmos o estado de todo o meu ser físico, após 5 meses de quimioterapia e injeções de indução de menopausa.

O céu está fechado, cinzento, chove, e um denso nevoeiro teima em fazer presença.
Ao contrário dos exames anteriores, eu estou calma e serena.
Não me sinto ansiosa nem a fraquejar na imaginação de cenários hipotéticos que nos consomem as emoções e o cérebro como se reais fossem.
Tenho dormido mal com dores estas últimas semanas. Mas acordo sempre para mais um dia de nova vida para experienciar e aproveito o máximo que posso.

É normal termos ansiedade e deixarmos a nossa mente afundar-nos em cenários porque somos um ser pensante e o nosso ego faz-nos querer grandeza até na desgraça.
Mas é preciso percebermos e relembrarmo-nos todos os dias que tal não é saudável nem faz sentido. Essa auto comiseração que propósito tem para além de alimentar o ego no típico "coitadinha" que tanto procuramos numa tentativa de fugir aos problemas e disfarçar os mesmos com as nossas máscaras sociais ...
Acordei sem máscaras hoje, a minha face suave, tranquila e ao sabor do mar que me acompanha na marginal.
Apesar do céu fechado e escuro, o mar está tranquilo e natural na sua beleza e movimentos naturais e inevitáveis que todo o planeta e a sua lua embalam.

Por que usamos máscaras e deixamos a mente fazer tantos filmes? É o nosso desejo de termos alguma sensação de controlo desta viagem.
Mas teremos mesmo algum controlo?
Sim, podemos escolher sermos melhores seres, com mais empatia pelo planeta, pessoas, animais e plantas e viver em harmonia com a energia que nos envolve e da qual fazemos parte.
No fundo o planeta, é um ser e fazemos todos parte dele, a energia é de todos e todos a alimentamos e sentimos.
E no fundo, ninguém controla nada.

Mas nós insistimos em construir imagens e materiais que iludem a nossa mente para nos darmos mais crédito como seres, para sentirmos mais controlo e alimentarmos um falso propósito de existência.

Quando basta observar os outros seres e perceber que a existência é tão simples e que a felicidade está sempre dentro de nós.

Eu cá me embalo nas correntes e beleza do planeta e confesso, mais interessada nos ingredientes que vou colocar no meu bolo de anos amanhã do que num exame médico que não controla a minha felicidade.

Não importa quanto tempo temos, mas sim como vivemos o tempo que temos.
Obrigada Mãe natureza por mais um ano completado. 40 faço amanhã e que vida incrível eu já tive e ainda terei, todos os dias.
😍😍😍





4 de junho de 2019

A Concha

Frágil invólucro embalado pelas marés, à mercê das ondas calmas mas também das tempestivas.
Ao longo do tempo, no seu ciclo natural de nascimento e morte, cria rachas e falhas, fruto da experiência que é esta viagem.
Até o seu ser físico acaba por morrer dentro da concha, mas esta continua a fazer parte de um todo,
de um mar que a embala eternamente.

A sua energia permanece e encanta quem a encontra e lhe toca.
A sua essência fica na nossa memória e será lembrada com tudo o que faz parte dela.
O seu brilho, o seu arôma a mar, o seu toque e a sua beleza natural de um ser deste planeta incrível.

Assim sou eu, presa num corpo doente e em processo natural.
Assim serei eu, espirito livre e sorriso aberto.
Feliz por existir, por estar consciente e pelo mar que me embala até me transformar noutra matéria.