15 de novembro de 2018

Depois da tempestade, vem a bonança...


Foram duas semanas dificeis de ultrapassar.
O meu corpo estava muito enfraquecido e a sensação tanto física como psicologicamente era de me estar a entregar, a render. A perder uma luta que já nem sabia ser minha.

É sempre mais fácil falar das coisas palpáveis, mas a verdade é que nem todos os sintomas do cancro são físicos e existe um lado muito obscuro e dificil de aceitar nisto tudo.

Todos os dias lemos posts e recebemos mensagens motivacionais, de força. Todos os dias nos dizem que somos guerreiras, sobre humanas e que vamos vencer a morte com um sorriso na cara.
A intenção é boa, sim. Mas a realidade é outra e não existem muitos doentes a falar deste lado da doença. Desculpem se vou eu falar dele, mas eu sempre fui uma grande faladora hehe.

Não falo de morte... Todos os dias vemos noticias de pessoas que morrem após anos de luta contra a doença e nunca sinto tristeza, sinto paz e sei que a pessoa está finalmente em paz.

Falo da luta, da constante luta e pressão que sentimos para deixarmos os nossos amados felizes durante o máximo de tempo possível. A maioria desta luta não é por nós, mas sim pela família.
Sempre a fazer o esforço para sorrir, mesmo que a dor nos pareça ser o fim.
Sempre a responder aos apelos das crianças, mesmo que receber a criança a correr nos braços seja agonizante, mesmo que dobrar e abraçar as crianças na cama todas as noites antes de dormirem seja excruxiante, iremos fazê-lo até ao fim.

E sim, há momentos que não partilhamos com ninguém para não os fazermos sofrer.
Sim, pensamos na morte e na paz que um dia nos trará.
Sim, pensamos que não existe preparação possível para os que cá ficam...
Por mais artigos que se leiam não há nada que eu possa dizer aos meus filhos que os vá preparar.
Mesmo que eu ainda cá esteja 10 anos, não interessa, nada os vai preparar para a perda da mãe e eu tenho de aceitar isso e dar amor enquanto cá estiver, apenas.

A perda da orientação da vida é grande e desnorteia-nos.
Mulher acelerada, trabalhadora, mãe de 3 filhos, sempre à frente com a espada na mão contra o mundo. De repente, somos um corpo fraco que não se consegue levantar nem providenciar nada aos que sempre dependeram de nós e a mente fica perdida, sente-se incapaz e desnecessária.

Nós não somos as heroínas, mas sim a família e os amigos que nos apoiam e nos dão as razões para continuarmos cá.
O meu marido aguentou estas semanas sozinho a fazer o papel de mãe e de pai.
Pela primeira vez em 13 anos não me levantei antes de todos para tratar de todos, não me levantei de noite quando uma das minhas filhas chorou... Mas ele estava lá para mim e para elas e conseguiu.

Ele é e será a verdadeira heroína nesta história.

Entretanto, o meu corpo conseguiu recuperar a dose fortíssima do 1º ciclo de tratamento e estou a fazer o 2º ciclo.
Estou melhor, tenho mais energia e um pouco mais capaz de voltar a ser um pouco eu mesma.
E vou continuar a lutar todos os dias.

Beijinhos a todos e um bom dia para todos!

                                   



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