26 de maio de 2011

Inscrição na Escola Primária em Portugal

Ando há mês e meio a “tentar” inscrever o meu filho na escola primária.
Para quem não sabe, não temos direito de ver as escolas nem saber qual o currículo nem actividades de cada uma e muito menos escolher qual a escola em que o nosso filho irá andar…

Tem sido um processo caricato o suficiente para manter o cunho de serviço público português a que estamos habituados e merecia já uma produção cinematográfica à Manoel de Oliveira…
Com certeza ganharia prémios internacionais na categoria Comédia, pois nenhum estrangeiro na sua perfeita saúde acreditaria que tal fosse reflectisse a realidade.
Bom… e daí já não sei… Com base nos últimos filmes estrangeiros que vi, onde retratavam a nossa sociedade, somos enfiados num estereótipo grego/português de labregos à grande… Lembrei-me agora daquele filme onde o Colin Firth vem a Portugal atrás da Lúcia Moniz e a família dela – ou seja, nós portugueses – somos retratamos como bairristas mafiosos sem grande educação…

Voltando ao processo de inscrição do Tiago na escola…
As várias idas à escola, ou seja, tentativas falhadas de inscrição do meu filho na escola têm razão de ser, mas é claro:

(Razões estas que se acumulam tipo bola de neve para me levarem ou a mim ou aos próprios funcionários à loucura ou ao suicídio…)

1ª - A escola só aceita inscrições dois dias por semana em horários específicos que coincidem com horas e almoço de funcionários, deixando a funcionária que sobra para nos atender com uma vontade louca de sorrir e disposição incrível. (Ela fez questão de mencionar em voz alta ”qualquer dia temos de comer e dormir aqui”)

2ª – A satisfação profissional dos funcionários públicos é à portuguesa …
Ou seja, à 2ª tentativa a funcionária (a mesma…) atira-me os papéis dizendo que estão mal preenchidos e que tenho de voltar ao início. Pior… não se disponibiliza para me ajudar (já que tem um computador à sua frente) e diz-me que a informação está toda na internet.
Ahahahaha…ironia das ironias: as escolas portuguesas estatais não têm site e os nomes que aparecem nas listas online não são iguais aos nomes que a senhora tem na sua listinha preciosa que não partilha comigo, por isso volto para casa.

3ª – Pedem-nos fotocópias de vários documentos (logo, vamos à papelaria tirar fotocópias) para depois descobrirmos que vão digitalizar os documentos lá na escola.
Não vejo problema nisso até me aperceber que ninguém sabe pôr o scanner a funcionar e muito menos percebe o sistema que indica mensagens em inglês. Depois de uma batalha entre o computador e o “especialista” lá da escola, o senhor ainda passa mais dez minutos a tentar perceber onde é que o sistema guardou os documentos…
(Por esta altura, eu já me estou a rir sem conseguir disfarçar e o Nuno começa a deitar fumo pelo nariz)

4º - Finalmente, têm de inscrever o meu filho num portal online do estado, preencher todos os campos e submeter os documentos digitalizados. O especialista não se apercebe que está a guardar os scans num formato não permitido pelo sistema, porque em vez de ler a mensagem de erro que surge no ecrã, anda com a pop-up de um lado para o outro a tentar ver o que está por baixo…
(Aqui já estou uma pilha, a tentar controlar-me para não atirar o senhor contra a parede e fazer eu a inscrição…)

5º - Após mais alguns minutos de sofrimento, espantem-se (ou não…) a internet foi-se e não se consegue aceder ao portal de inscrições. Não estou a brincar, a escola ficou sem internet e ninguém parece stressado e uma das funcionárias acha piada e ri-se, ainda que com algum sarcasmo que denota algum desespero.

Depois de tudo isto, sem grande vontade de me rir lá me vim embora sem ter qualquer confirmação de que o meu filho esteja ou não inscrito para entrar na escola…
Mas não era a altura ideal para desagradar aqueles funcionários prestes a organizar uma iniciativa colectiva ou de suicídio ou de homicídio – não eu para perceber bem qual seria a escolha.

22 de dezembro de 2009

Boas Festas Menina!



Oi Menina,

Como estás? Espero que bem vivinha, cheia de força e muito feliz!

Sei que foi um ano difícil, mas, admite, não foste feita para ficares inerte e tens ultrapassado os obstáculos de acordo com as tuas possibilidades. Tens um bichinho dentro de ti que não te deixa parar, queres mais e mais e não desistes – Ainda bem!

Queria dizer-te, porque bem sei que mais ninguém o fará e porque reconheço o gesto como crucial, que tenho MUITO orgulho em ti!

Acredito na tua força e vejo o brilho nos teus olhos. Decerto, enfrentar o Mundo não foi fácil, mas o teu sorriso diz-nos tudo e mostra que bem valeu a pena a luta!
Todos nós precisamos de amor e ansiamos pelo reconhecimento desse sentimento em nós e nos outros. O amor é vital para nossas vidas como o ar, e é notoriamente reconhecido que sem amor a criatura não sobrevive.

Os teus poros emanam Amor, não só por essa pessoa linda que te elevou a tal estado, mas por todos os que te rodeam. E não quis deixar em branco este momento em que escrevemos a todos os que amamos. Tinha de te dizer que estás no bom caminho e que me fazes muito feliz por lutares pela nossa felicidade!

Afastas o Ego da minha boca por alguns instantes. Ao ver o teu sorriso, ignoro a inevitável síndrome de Eros e até mesmo a Psique que me domina no dia-a-dia. Sinto o Amor Interpessoal que existe entre mim e os que me rodeiam.

É tão bom ver felicidade no rosto dos outros!

E por gostar tanto de te ver assim feliz, escrevi-te este postal para te pedir que agarres o novo ano que se avisinha e continues a lutar por nós!

Um abraço do tamanho do Mundo!

A Tua alma.

5 de outubro de 2009

Inflingir nos outros e em nós mesmos

"Magoar alguém é transferir para outrem a degradação que temos em nós."
Simone Weil

A nossa tendência é sempre a de receber para dar. Receber sem retribuir é muito bom e muito fácil. Mas será justo para com a outra pessoa? E se essa pessoa formos nós?
Todos nós fazemos escolhas diárias a este nível. É constante, uma vez que não nos é possível dar o mesmo a todos os que nos circundam ao mesmo tempo. E muitas vezes nos arrependemos das nossas escolhas. Todos cometeremos tal erro inúmeras vezes, não há como escapar a isto. O importante é repensar no cometido, analisar as nossas opções e, tendo a noção dos estragos, assumir as culpas. O pedido de desculpas é, sem qualquer dúvida, fulcral. No entanto, não é suficiente nem poderá mudar a visão que os outros têm de nós. Não sejamos ridiculamente egoístas agora, não me refiro ao que os outros pensam de nós… Antes às suas intenções de nos continuarem a dar, seja amizade, seja boa educação, seja amor ou simples gesto. O sentimento de rejeição, muitas vezes induzido em erro de circunstância, apenas nos prejudicará caso não tenhamos a noção do mesmo e nada façamos para o demonstrar ao ser humano vítima da nossa humanidade. Caso tenhamos o senso de assumir a nossa natureza e o façamos perante os outros, é apenas normal que os outros o aceitem com resposta clara de que o percebem por serem, também eles, humanos. Também os outros se consciencializam da sua semelhante humanidade e é esse o pior repúdio que podemos sentir perante outra pessoa, caso nos aparente não ter a noção das consequências dos seus actos ou até tendo, não assuma a responsabilidade com uma naturalidade que nos enoja.

Quando só recebemos passamos uma mensagem à outra pessoa, mesmo que inconsciente, de que ela não tem valor para nós. Ou melhor ainda, que somos superiores a ela, que as suas necessidades não são importantes e que as nossas, sim, é que são importantes. É apenas normal que a outra pessoa se afaste de nós. Não existe pior repelente que o desprezo inconsciente. Esse que nos fere pelo simples facto de nem sequer ter sido planeado e de nos ter sido infligido única e exclusivamente devido a momento pessoal de egoísmo e egocentrismo.

Quando colocamos alguém à frente das nossas próprias necessidades, mostramos-lhe o quão importante a pessoa é e quão significativas são suas necessidades para nós. Mais uma vez, tal acto só poderá trazer verdadeiros sorrisos, caso seja, de facto, sincero e impremeditado.

Só receberemos o que formos capazes de dar. É pena não nos lembrarmos disto mais vezes. É pena não nos lembrarmos dos outros mais vezes. Dos que amamos. Dos que nos amam. Das suas necessidades e fragilidades. Nem sempre é fácil colocar os outros em primeiro plano. Falta-nos um pouco de humildade para darmos valor a alguém em detrimento de nós mesmos.

Falo por mim mesma, evidentemente. Hoje magoas alguém, amanhã magoam-te a ti…

Desculpa… Amo-te muito.